Gravidez psicológica não é só 'coisa de nossa cabeça'

Essa semana eu estava conversando com uma colega que não via há muitos anos. Sentamos em uma lanchonete no centro da cidade na hora do almoço e começamos a colocar o papo em dia. Ela foi me contando da vida dela e eu da minha, uma deixando a outra a par dos acontecimentos. Quando toquei no assunto do meu aborto espontâneo ano passado, ela emocionou-se e começou a chorar. Estranhei, claro. Ela, linda, inteligente, médica e ali chorando por conta disso?

Depois de muito tentar acalmá-la consegui com que ela falasse o que tinha ocorrido. E para surpresa minha eu também fiquei chocada. Ela, em relatando que tinham pouco mais de um mês que o GO dela tinha a diagnosticada com pseudo-gravidez, ou mais conhecida entre o povão, como gravidez psicológica. Como, ela que é médica, não percebeu isso?

Na minha cabeça essa doença era comum apenas em cadelas, nas mulheres só ocorriam por conta de problemas ou bloqueios psicológicos, como querer muito um filho ou não querer de forma alguma engravidar. Quando a mulher está numa relação saudável e estável com um parceiro e fica tentando sem sucesso ou fica evitando a todo custo, acaba sugestionando o cérebro de uma falsa gravidez e o corpo responde com os sintomas. Pronto, para mim isso era gravidez psicológica em mulheres.

Mas eis que conversando com ela descobri outras coisas. Ela, que é pediatra, sabia que alguns problemas hormonais poderiam dar falsos-positivos em exames de gravidez e às vezes até gerar uma gravidez psicológica, mas até para ela, ter alguma ligação com o psicológico era algo essencial para isso. E ela mesmo descobriu que não, vivenciando na própria pele.

Claro que existem casos somente de fundo emocional, esses são bem mais fáceis de tratar. Mas quando o problema mora em outro lugar do corpo que não o cérebro? O que fazer?

Minha colega começou a achar estranho estar mais de dois meses com a menstruação atrasada. E disse que notou que os seios dela nos períodos em que viriam os ciclos e não vinham, aumentavam de tamanho, porém, notou que no último mês não diminuiu. Foi a praia com os amigos e passava mal com qualquer coisinha. Mas até aí, tudo bem. O que incomodou ela foi justamente quando um paquera dela (ela é solteira sem namorado) disse que ela devia ter comido muito porque estava com uma barriga enorme.

E não é que estava? Ela nem percebeu no corre-corre do dia a dia. Estava com o abdomen inchado e levemente rígido. Ela quase caiu para trás. Correu na farmácia, comprou todos os testes de gravidez disponível e fez. Nada. Todos negativos. Na segunda-feira seguinte a primeira coisa que fez foi colher seu próprio sangue e realizar o teste do Beta HCG, que também voltou negativado. Foi quando correu pro ginecologista achando que estava maluca, e até pensando no pior, em um tumor.

Quando fez uma bateria de exames o médico constatou que ela estava sim 'grávida', mas de uma forma diferente. Eles como colegas de profissão brincaram com a situação para 'sair do clima' de tensão. Ele explicou que ela estava com uma pseudo gravidez e que não era de fundo emocional. Pediu uma bateria de exames hormonais para descobrir o que tinha. Os exames retornaram mostrando alterações em alguns aspectos que diagnosticaram-na com síndrome do ovário policístico (que eu também tenho desde os 14 anos), coisa que ela sabia, e um quadro de hiperprolactinemia (produção elevada da prolactina, responsável pela produção de leite).

Com os resultados em mãos o médico a direcionou para um endócrinologista para realizar exames mais detalhados e tratamento. Porém, quando lá chegou e fez novos exames, descobriu que tudo o que ela vinha passando (e esse drama todo durou quase 2 meses – imagine andando na rua com barriga e seios de grávida sem estar grávida?!) era por conta de um micro tumor localizado na glândula hipófise, responsável pela produção de inúmeros hormônios, um deles a prolactinas e outros hormônios sexuais. Foi realizado um procedimento de retirada, no qual na biopsia veio negativado para malignidade, ou seja, era benigno, e agora, quase 3 meses depois o corpo dela está voltando ao normal.

Ela ainda está com o abdômen parecendo estar com uma gestação logo de início, mas bem menos evidente do que como estava na fotos que ela me mostrou no celular enquanto me contava a história.

Por isso, meninas, cuidem-se! E lembrem-se, que não é porque estamos com alguma doenças que leve o termo 'psicológica' que quer dizer que tenhamos problemas somente psicológicos. Realizar exames de rotina se faz necessário para qualquer mulher, de qualquer idade.  Se minha colega, que é médica, não percebou que algo estava errado, nós que não somos, devemos sim, tomar conta e cuidado do nosso corpo.

Seja, por motivo psicológico ou físico, a gravidez psicológica tem cura e/ou tratamento. Procure orientação de seu ginecologista/obstretra.