Neuroma de Morton, um vilão para as fãs de sapatos

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Poucos amigos da minha rede virtual sabem, mas há muitos anos atrás eu tive que fazer uma cirurgia na qual deixou, na época, toda minha família apreensiva. Minha avó tinha falecido a poucos meses de um câncer de mama e eis que o médico faz um diagnóstico de que eu teria um tumor. O susto foi grande, ele me deixou calma dizendo que raramente esse tipo de tumor é maligno, mas claro que naquele momento a família estava muito triste para pensar em qualquer coisa e só a palavra "tumor" já assustava qualquer um.

Tudo começou lá por 1997, no meiozinho do ano. Eu, uma fã de sapatos incondicional, sempre corria pelos shoppings atrás de uma novidade: um tênis transado, um salto alto de deixar as amigas com inveja, sandálias espetaculares e por aí vai. Como sempre briguei com a balança, estar acima do peso e usar salto alto constantemente já não eram uma combinação tão perfeita. Dores na coluna e nas pernas eram normais, mas nada que afetasse o meu dia-a-dia. Mas em outubro de 1997, onde meus pais estavam em plena guerra de separação e minha avó lutando durante anos contra um câncer, minhas constantes dores no pé não pareciam tão importante e deixei para lá.




O tempo passou e as dores foram ficando pior. Era só eu calçar um sapato qualquer que a sola do pé teimava em "pegar fogo", era essa a sensação. Mudei meus hábitos de comprar sapato achando que eles estavam causando a dor, mas não parou. Desisti dos saltos e passei a usar somente tênis e nada. Em julho de 1999 a dor ficou simplesmente insuportável a tal ponto que pisar descalça no chão era inviável. Na época eu estava desempregada e ficava a maior parte do tempo ou deitada ou sentada, porque só de pensar em andar a dor voltava. Mas fingi não estar incomodando.

O fim do ano de 1999 foi bem ruim, minha avó veio a falecer por conta de um câncer pulmonar derivado do câncer de mama. Ela viveu alguns anos em remissão, mas não suportou e em outubro daquele ano ele venceu. A dor já não dava mais para aguentar e então conversei com minha mãe, e como eu tinha plano de saúde na época fui a um Centro Ortopédico perto de casa. Por conta de sempre viver acima do peso, ir ao ortopedista era coisa rotineira para mim: dores nas costas, tombos e torções eram coisas normais, mas meu ortopedista estava viajando em um congresso e fui atendida de emergência por outro.


Fui nesta clínica umas 15 vezes e todos os que me atendiam diziam que eu estava acima do peso e que isso era o problema. Falavam que se eu emagrecesse tudo seria resolvido e a dor sanada. Então fiz o que pediram, perdi 45 quilos em dois meses e nada, a dor piorava a cada dia. No final de dezembro voltei disposta a não sair de lá sem uma resposta plausível sobre o que estava causando aquela dor insuportável. Um médico me atendeu na emergência da clínica ortopédica e pediu uma chapa. Ficou uns 15 minutos olhando e então sentou comigo dizendo que ia solicitar uma ultrassonografia do pé. Fiquei nervosa. Nunca tinha ouvido falar em ultrassom do pé. Mas parecia ser grave.

Fiz o exame e retornei. Ele disse que as imagens estavam embaçadas e o resultado constava um termo estranho, "volume esférico não identificado medindo cerca de 5 mm". Eu chorei, gritei e falei que não sairia dali sem que a dor parasse. Nesse ponto eu já estava fazendo dieta constante e fisioterapia. Me entupiam de anti-inflamatórios e nada resolvia. Ele então pediu uma ressonância magnética e quando ficou pronto ele soltou a bomba. No dia 27 de dezembro de 1999 ele em diz que eu tinha um Neuroma de Morton. Só conseguia assimilar o final da palavra "oma" e unir a outros tipos de tumor, "neuroma, carcinoma, sarcoma, etc".


Ele viu que perdi a cor e me explicou com calma o que era o Neuroma de Morton. Disse que é um tipo tumor, na maioria das vezes não maligno, nos nervos do pé. Entrei em choque. Minha avó tinha acabado de falecer de câncer e só me faltava ter que contar a minha família que eu tinha um tumor. Perguntei a ele quais eram as opções de tratamento, afinal a dor estava insuportável e eu tinha acabado de começar a trabalhar em um novo emprego, e isso estava dificultando a minha vida profissional.

Ele então explicou que como já tinha tentado os métodos alternativos - como medicação, fisioterapia, palmilhas ortopédicas, etc - e não tinha obtido resultado a única opção agora era a cirurgia. Sendo que nesse meio todo ele deixou claro que não era especialista em microcirurgia e entrou em contato com um colega dele da faculdade que era microcirurgião de mãos. Ele topou o desafio e pediu que fosse ao consultório dele no Jardim Botânico.


Como meu problema não era classificado como emergencial, optei por curtir o início do ano e o carnaval de 2000 e marquei a cirurgia para início de março logo depois que voltasse de Arraial do Cabo, para onde tinha viajado com o então meu namorado e seus familiares. Voltei e fiz uma cirurgia que durou cerca de 6 horas e passei 24 horas em observação no hospital. Quando voltei da anestesia o médico explicou que tiveram que me dar uma peridural porque eu tinha espasmos musculares e mexer nos nervos com esses movimentos involuntários poderia acarretar riscos de paralisia.

O cirurgião que me operou contou que quando abriu meu pé, o direito, eu tinha dois neuromas, um bem grande e visível e o outro muito pequeno. Ele retirou o maior e deixou o pequeno lá (tenho até hoje), pois achou muito arriscado mexer no nervo por ele ser tão minúsculo. Contou também que esse tipo de neuroma (tumor nos nervos) é um tumor quase que exclusivo das mulheres. Entrei e choque e perguntei o porquê. Ele explicou que meu peso contribuiu para a sensibilidade dos sintomas, mas que isso não causou o problema. Então fiquei mais nervosa. O que causou então?

Foi quando me explicaram que é um tumor exclusivamente feminino porque ele só aparece em mulher que usam saltos altos, sapatos de bicos finos ou muito apertados por muito tempo seguido. Costuma causar uma queimação, mas raramente dá sinais visíveis de que existe, fazendo com que o paciente conviva com ele a vida inteira sem saber que o tem. Nos casos mais extremos aparecem calosidades na sola do pé, de forma bem grosseira e repetitiva, ou seja, mesmo que um podólogo retire a calosidade ela teima em voltar. Seguido de dores, perda do equilíbrio na hora de pisar e impossibilidade de utilizar qualquer tipo de calçado.


Hoje me livrei dos saltos muitos altos e finos. Sapatos de bico fino nunca mais entrou na minha lista de compras. E aqueles super baixos, rasteirinhas e sapatilhas, uso somente se não for ficar com eles muitas horas seguidas. O melhor calçado indicado para mim são os meio termos, nem altos, nem baixos e de pontas arredondadas. Dar preferência para àqueles que são ortopedicamente aprovados com solados e palmilhas especiais.

Meu mundo caiu. Minha paixão por sapatos estava findada. O resultado da minha biópsia voltou e deu como benigno, portanto a remoção do outro neuroma só seria necessária caso ele crescesse e me incomodasse. Como modifiquei minha forma de comprar calçados não tive mais problemas tão graves. Ainda sinto um pequeno incômodo ou outro quando uso determinado tipo de calçado, pois acredite, não existem no mercado tantas linhas especiais de sapatos ortopedicamente corretos e bonitos. Ou eles são brutos e ortopédicos ou normais e bonitos.


As poucas marcas que encontrei, que eram confortáveis e bonitas, eram super caras, em torno de 150 reais cada par. Hoje só tenho um par desse tipo de calçado. Uso mais sandálias abertas com saltos medianos. Meus scarpins foram aposentados. Botas nem pensar. E assim fui vivendo. Os poucos que encontrei foram da Piccadilly, visite o site e confira a linha especial MaxTherapy!

Hoje, sempre que posso, e vejo minhas primas e amigas enlouquecidas comprando saltos monumentais dou dicas sobre o que aconteceu comigo. Gostar de sapatos é uma coisa, ter riscos à sua saúde é outra. A única coisa que poderia mudar um pouco é a indústria de calçados, que poderia fazer sapatos ortopedicamente confortáveis e da moda, sem que nos sentíssemos estar calçando o sapato da vovó. Fica a dica! Cuide dos seus pés, eles vão agradecer!




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12 comentários:

  1. Oi, Ana!
    Então ... unidas pelo pé! temos uma história de pé muito parecida e por esse caminho cheguei a seu blog, mas ao ler seu perfil vejo que temos outras coisas comuns - e isso não é uma cantada ;-) ...
    Estou bastante ansiosa, porque acabei de fazer a cirurgia e o "oma" foi para a biópsia - e estou segurando a onda sozinha, não falei pra família e tenho que esperar os 15 dias "úteis" pra saber o resultado...
    Agradeço ter encontrado seu blog, o primeirão da lista na pesquisa, pois está me permitindo passar um tempo distante de mim.
    Um abração,
    Lília

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  2. Oi Ana!

    Também cheguei por aqui enquanto pesquisava sobre NEUROMA DE MORTON.
    Acabei de receber o diagnostico e confesso que estou com muito medo da cirurgia. Mas não é nada facil conviver com a dor.
    Por enquanto vou fazer tratamento com fisoterapia, palmilha... mas o médico já falou em cirurgia.

    Parabens pelo blog! Adorei!

    beijos!

    Viviane

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  3. Oi Ana estou com cirurgia marcada para o dia 11/01/2011 estou um pouco apriensiva pois o medico disse que vou perder a senssibilidade do dedo.Pois vai ser retirado um nodulo do nervo . gostaria de saber de você se realmente foi eficaz e se você faria novamente pois sinto tambem no pé esquerdo vou operar o direito obrigado pela atenção.

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  4. Lilia, como foi o resultado do exame? tudo bem? Nos dê notícias! torcendo por vc!

    Vivi, olha é complicado receber a notícias sim, mas aprendemos a conviver com a resposta dos médicos e tentar os melhores tratamentos. Se vc descobriu no começo, tente as alternativas antes da cirurgia. me conte o que aconteceu. Boa sorte!

    Oi Lala! Quando eu fui operar os médicos disseram que poderia ocorrer sim a perda da sensibilidade caso o nervo fosse retirado. E isso ocorreu comigo. O tumor estava muito grudado no nervo e ele precisou ser retirado junto com ele. Com o tempo o resto do pé vai enviando informação para a parte afetada, mas realmente nunca mais é a mesma coisa. Você terá problemas na hora de comprar sapatos, pois por conta da cirurgia seu pé tende a ficar mais inchado e saltos altos ou baixos demais irão machucar ou inchar mais ainda seus pés. Mas nada com que você não possa lidar. Eu já tenho anos que fiz a cirurgia e aprendi a me adaptar a minha nova vida. Só uso sapatos ortopédicos, preferencialmente da Piccadilly ou da Usaflex (os mais confortáveis), inclusive de saltos, mas não muito altos. O problema fica por conta de fazer os pés. Hoje só posso fazer as unhas dos pés em um podólogo, pois como não tenho a sensibilidade total entre os dedos operados, preciso de toda atenção e cuidado nessa hora. No mais, é viver a vida normalmente. Converse com seu médico sobre suas opções. Eu, nem pensei duas vezes antes de operar, pois não aguentava mais a dor. Entre hoje ter dificuldade de escolher sapatos e ter algumas restrições, não chegam nem perto da dor que eu sentia. Não me arrependo =D Boa sorte e depois me conta o que aconteceu viu...

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  5. muito bom ter encontrado esta página,meu nome é ivanise e atraves de uma ultrasonografia descobri a causa das dores terriveis que estão me impedindo de andar.
    depois de muita insistencia minha traumato resolveu pedir o exame (mas de um só pé)apesar da dor ser nos dois.
    e constatou neuroma de morton 1 medindo 0,6 cm e o outro 0,4 cm nem sei ao certo se isto é grande ou pequeno para este tipo de nódulo ,ainda não levei o exame p/ a traumato mas agora que eu sei o que é eu mesma apalpei o outro pé e localizei outros dois .
    se puder me responder quanto ao tamanho se é normal pois sempre que leio algo a respeitam falam em mm e nunca li que alguem tenha algum medindo cm.abraços a todos
    por favor deem suas opiniões vai me ajudar com certeza

    ivanise 18/03/2011

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  6. gente tem uns 25 anos que sofro com dores no pé, já fiz exames de todo tipo e não consegui descobri o que tenho, agora para piorar tenho crises constantes de asma e os corticoides me fez engordar, tenho sofrido demais com as dores e o peso tem piorado, agora me pergunto:será que tbm sofro dessa doença? essa semana farei uma ultrassom e espero que tenha alguma solução pq tem dias que me dá vontade de sentar no chão, no meio da rua e chorar de dor e queimação no pé, preciso de uma solução

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  7. Ivanise, nos deixe a par sobre sua situação. Estou torcendo por você. Vai dar tudo certo!

    Ilka, peça ao seu ortopedista uma ultra do seu pé ou então uma ressonância magnética. Esses foram os exames que eu fiz. Se o neuroma não estiver muito grande ou não estive grudado ao nervo, como estava o meu, apenas usar sapatos ortopédicos e palmilhas especiais nos outros pode ajudar. Continue insistindo com seu médico para fazer os exames e nos dê notícias!

    Boa sorte meninas!

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  8. Ivanise eu quando operei eu tinha dois neuromas, um deles com 0,8 cm e o outro com 0,02cm, que nos exames se mostram como mm, dá no mesmo. O de 0,8cmfoi o que eu operei, o outro era muito pequeno e não estava próximo ao nervo, por isso, o médico deixou e faço até hoje exames regulares para ver se ele cresceu ou não. Só troquei os sapatos e as palmilhas e convivo bem com o outro. Beijos e boa sorte!

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  9. Oi, meninas!!
    Descobri que, alem do Neuroma, tenho Joanete. Alguem calcula a dor que isso pode provocar qdo eh no mesmo pe?! Estou fazendo os exames pre-operatorios e nos primeiros dias de janeiro estarei resolvendo essas pendengas.....
    desejem-me sorte!!!!!
    Bjs, Fabiana

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  10. Fabiana boa sorte! Depois volte para nos contar como está viu =D Beijos e um ótimo reveillon!

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  11. Boa noite Ana. Descobri que tenho esse tumor na semana passada. Estou com uma dor terrível no pé há um mês e depois de uma ressonância veio o resultado final. Descobri seu blog pesquisando sobre o assunto e estou muito preocupada pois li vários relatos de pessoas que fizeram a cirurgia e continuaram com dor, às vezes até pior do que antes. Você diz que esse problema acomete principalmente as mulheres por causa dos saltos altos, mas eu raramente uso saltos. Já usei muito, mas de 5 anos para cá (a idade do meu filho) venho tendo uma dificuldade imensa de usar saltos, fico sempre entre os médios e as rasteirinhas. Será que o fato de eu usar muito sapato baixo tenha piorado também? Bom, vou começar a fisioterapia agora, mas já estou me preparando para uma cirurgia no futuro. Abraços!

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  12. Juliana, o que causa é realmente o salto alto. O tempo que você usou deixou isso ocorrer. As dores que sinto hoje são mínimas, até pq eu tinha 2 e só retirei 1. Mas hoje vivo normalmente. Se tem dúvidas, consulte outro médico :) Só faça a cirurgia se se sentir segura :)

    Boa sorte, melhoras e depois me conte o que aconteceu, tá?

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