O prazer do 'prazer'

Sexo é apenas um gesto capaz de decifrar palavras corporais, em cada um, em cada qual e em cada caso. Só depende de quem sente e de quem quer.
Laura Andrade Costa

Esse dias tenho pensado muito sobre o tema do sexo por sexo. Muitas pessoas afirmam que o sexo sem amor é chato, vazio e sem cumplicidade. Confesso que também já pensei assim. Mas, claro, que também não acho certo o sexo sem ligação alguma. No mínimo devemos ter alguma afinidade com aquela pessoa com quem vamos dividir nosso prazer.

Mas porque para as mulheres o sexo ainda é tratado como um assunto diferente, estranho, proibido e muitas vezes sujo? Se formos parar para analisar o tema é necessário que voltemos décadas e décadas atrás. Antigamente a mulher tinha por obrigação ter relações íntimas com seu marido e exclusivamente com ele, e um grande detalhe, não podia sentir prazer em pratica-lo. Era mera, e exclusivamente, uma relação 'social' e para fins de reprodução e nada mais. Com o tempo nós começamos a perceber que sexo é bom, faz bem e sentir prazer é natural.

O sexo sem amor é uma experiência vazia. Mas como experiência vazia é uma das melhores.
Woody Allen

Essa observação da visão diferenciada do sexo na relação a dois modificou o mundo. Os vários tipos de desejos sexuais se afloraram, inclusive aqueles entre pessoas do mesmo sexo. Alguns tabus caíram pelo caminho, porém, a educação que ainda é passada através das gerações para nós mulheres é que o sexo só poder vir junto com o sentimento. E isso é uma inverdade. Como disse Leila Diniz uma vez 'Você pode muito bem amar uma pessoa e ir para cama com outra.' E porquê não? Claro que podemos!

Os homens fazem isso a milhares de anos e nunca foram criticados. Mas quando somos nós, as mulheres, a saber separar o sexo do sentimento somos tachadas, classificadas e excluídas, inclusive por outras mulheres que se dizem liberais. Podemos muito bem estar apaixonadas por uma pessoa e sentir atração sexual por outra e porquê diabos não podemos, já que uma coisa não tem nada a ver com a outra?

Eu fui uma pessoa que durante muitos anos ainda era presa a essa sentimento educacional de milênios onde o sexo deveria vir acompanhado do sentir, se não viesse era errado, sujo ou proibido.  Já fiz sexo por sexo, sexo com amor e sexo sem amor, mas nenhum deles me deu prazer maior do que o sexo com afinidade. Sim! Porque escolher um parceiro, mesmo que para momentos de prazer momentâneo e ele não ter nenhuma afinidade com você em nenhum sentido simplesmente rola uma coisa automática, robotizada, na verdade, sem prazer algum, só o ato. Sem graça né?

Fazer sexo é um ato natural, saudável e prazeiroso.
Bindes Fátima

Depois que aprendi que afinidade é muito melhor que sentimento passei a ver a minha vida sexual de forma diferente. Passei a não me comprometer com o prazer. O problema de muitas mulheres é esse, o medo do sexo virar amor. Meu maior medo não é do sexo virar sentimento e sim do sentimento do amor virar apenas amizade. Prefiro ter relações sem rótulos, cobranças, mas com muito prazer com alguém que tenha os mesmos gostos que eu do que ir para cama com namorado, amigo ou marido só porque 'estou apaixonada'. O ato acaba virando o que era antigamente, pura e simplesmente uma 'obrigação social da relação'.  Ficamos naquela de que se 'estamos juntos' temos que ter relações íntimas e ponto final.

Isso tudo, porque os homens acham que se uma mulher 'está com ele em uma relação' e não tem relações sexuais quando eles querem é porque elas não gostam mais deles. Totalmente errado. O sexo não é só um ato físico e químico, é 98% mente, psicológico. Se sua mente não estiver conectada e bem com o mundo exterior, inclusive em suas afinidades com seus parceiros, óbvio que a vontade de realizar o ato em si não terá o mesmo efeito se sua mente estivesse conectada 100% com seus desejos.

Então, que os tabus que ainda restam no mundo feminino caiam! E como dizia Leila Diniz, 'Eu posso dar para todo mundo, mas não dou para qualquer um. Só quero que o amor seja simples, honesto, sem os tabus e fantasias que as pessoas lhe dão.'

O sexo se tornou um dos assuntos mais discutidos nos tempos modernos. Os vitorianos pretendiam negar sua existência e a era moderna pretende ignorar a existência dos demais assuntos.
Fulton J. Sheen