Falar sobre perda faz bem?

~ ~
Texto de Vinita Mehta

Por anos, terapeutas do luto presumiram que as pessoas precisavam falar sobre a perda emocional e lidar com seu trauma. Mas pesquisa sugere que, para muitos, esse pesar proativo pode ser prejudicial

Não demorou muito para os psicólogos chegarem ao local. Poucas horas após Tim K. disparar sua última bala na quarta-feira no colégio Albertville, na cidade de Winnenden, no sudoeste da Alemanha, dezenas de especialistas em luto e trauma chegaram para ajudar, alguns de centenas de quilômetros de distância. Na quinta-feira, havia 50 deles na pequena cidade próxima de Stuttgart.

Quinze pessoas morreram no massacre, sem contar o próprio K. Doze delas morreram nas salas de aula e corredores da escola, muitas baleadas à queima-roupa na cabeça. Para aqueles que testemunharam os eventos brutais, o choque é profundo; aqueles que perderam amigos e parentes, o pesar é profundo. Os especialistas presentes no momento em Winnenden estão lá para dar conforto aos alunos, assim como para encorajá-los a enfrentar o que viram e experimentaram. Mil chamadas já foram feitas para a linha especial de crise que as autoridades estabeleceram após o massacre, com muitos telefonando para perguntar qual seria a melhor forma de lidarem com seus sentimentos e emoções.

Mais mal do que bem?

A resposta, entretanto, pode não ser a que poderíamos esperar. Uma nova pesquisa sugere que não demonstrar sintomas de trauma pode na verdade ser um sinal de saúde, não um sinal de problemas. Além disso, alguns pesquisadores acreditam que os clínicos bem-intencionados podem estar causando mais mal do que bem.

Perder um ente querido é sem dúvida uma das experiências mais dolorosas da vida. Psicoterapeutas há muito são treinados para recomendar "trabalhar o luto" e "lidar" com o trauma ao modo de Sigmund Freud, e enfrentar a perda de frente há muito é considerado o caminho apropriado de tratamento para aqueles que experimentam angústia, parcialmente visando evitar os sintomas de trauma e depressão. Os clínicos geralmente interpretam sintomas como depressão, afastamento social e choro como necessários ao desenvolvimento normal do processo de perda. Isto envolve falar sobre a perda, entender seu significado e chegar a um senso de conclusão.

Mas apesar da maioria dos profissionais de saúde mental endossarem o procedimento, na verdade há uma surpreendente falta de evidência científica para apoiar sua utilidade. Estudos mostram que ela não é necessariamente tão eficaz quanto as formas convencionais de psicoterapia. Na verdade, não está nem mesmo claro que o processo do terapia do luto é benéfico para a maioria das pessoas que sofreram uma perda.

Ligação emocional

As pesquisas têm mostrado de forma consistente que cerca de 50% daqueles que experimentam um trauma permanecem resistentes. Em comparação, a desordem de estresse pós-traumático é observada em apenas 5% a 10% das pessoas expostas a essas circunstâncias. E apesar da preocupação com sintomas de pesar crônico -caracterizados por alto grau de depressão que pode persistir por anos- ser ampla, apenas 10% das pessoas que sofrem perda exibem sintomas de pesar crônico, apesar do número aumentar quando a perda é extrema ou envolve violência.

Por décadas, a convenção era de que a pessoa enlutada sente raiva intensa, culpa e ambivalência em relação à pessoa morta. Inicialmente, essas emoções são predominantes em pessoas que experimentam "perda complicada", na qual aqueles que sofreram a perda tiveram um relacionamento problemático com a pessoa que faleceu. Estes conflitos podem permanecer com os vivos, e sem uma oportunidade de resolvê-los, levar a uma depressão plena. Mas está longe de ser a norma.

De forma semelhante, "romper os laços" com a pessoa falecida, ou um "deixar partir" emocional, também era considerado um passo obrigatório para superação do pesar. Mas pesquisas agora indicam que as pessoas que sofreram perda lidam melhor com ela ao manter um laço emocional com os entes queridos por muito tempo após sua partida. Diante desses resultados, há uma crescente preocupação entre os profissionais de saúde mental de que os métodos e metas da terapia do luto podem, na verdade, desestabilizar em vez de escorar os recursos psicológicos.

"A maioria das pessoas que sofreram perda não precisa e nem se beneficiará com uma intervenção clínica", escreveram os psicólogos George Bonanno e Scott Lilienfeld em um artigo de 2008 para a revista "Professional Psychology: Research and Practice". Os cientistas chegaram até mesmo a dizer que a noção de que a terapia do luto pode ser tão eficaz quanto as formas convencionais de terapia é "perigosa" e representa um "otimismo injustificado".

Quatro tarefas para o luto

Os terapeutas do luto regularmente empregam o texto clássico do psicólogo de Harvard, J. William Worden, "Terapia do Luto", originalmente publicado em 1982. Atualmente em sua terceira edição, Worden estabeleceu quatro tarefas de luto: aceitar a realidade da perda, experimentar a dor do pesar, o ajuste ao ambiente no qual a pessoa falecida faz falta, retirar a energia emocional e reinvesti-la em outro relacionamento. Ele recomendou que a terapia do luto deve ser concluída dentro de um tempo limitado, especificamente 8 a 10 sessões.

Os terapeutas do luto que fazem uso livre das teorias de Worden, entretanto, agora insistem que o tratamento simplesmente leva o tempo que for necessário. Isso frequentemente significa um tratamento de vários meses ou vários anos. Isto é razoável? Até mesmo o dr. Worden lamentou publicamente que seu livro, que visava apenas servir como um recurso para os provedores de saúde mental, tenha ajudado inadvertidamente a criar uma indústria de terapia do luto, desde praticantes privados especializados a programas federais de grande escala.

"Eu não sei o que gerei", lamentou Worden para a revista "Time".

O risco de encorajar as pessoas a discutirem sua dor repetidas vezes se torna particularmente aparente quando se trata de terapia de crise. Sempre que há um evento traumático, como os ataques terroristas do 11 de Setembro em Nova York e Washington, D.C., terapeutas do luto e crise aparecem aos montes. Tendas são armadas como clínicas improvisadas. Panfletos descrevendo uma perda "normal" estão por toda parte.

Apenas terapia

Foi provado, é claro, que os sintomas de pesar são aumentados quando as pessoas perdem seus entes queridos sob circunstâncias particularmente violentas e horríveis. Estudos agora mostram, entretanto, que interrogar indivíduos perturbados a respeito de seus sentimentos de perda até chegarem a uma reação catártica pode ser prejudicial e até mesmo retardar a recuperação. Bessel Van der Kolk, um psiquiatra da Universidade de Boston e diretor médico do Centro de Trauma em Allston, Massachusetts, argumenta que um estágio crucial na perda é permitir que o corpo se acalme. Ele acredita que encher os indivíduos recém-traumatizados de perguntas induz a um estresse físico, consequentemente interferindo neste passo importante do processo natural de luto.

Há um momento em que a terapia do luto pode ser útil? "Eu não sei se pode ser de ajuda até estes terapeutas esclarecerem o que estão tentando fazer", disse Bonanno, que é professor da Universidade de Columbia, em Nova York.

Apesar de seus fortes receios a respeito desta forma de terapia, Bonanno é a favor de tratamento caso a pessoa enlutada expressar o desejo por conta própria. Ele acredita que o desafio mais difícil para aqueles que enfrentam uma perda é preservar sua identidade. Assim, os clínicos devem encorajar seus clientes a construírem um novo senso de significado em suas vidas. Também parece que a terapia é mais útil para aqueles que sofriam problemas psicológicos antes da perda, que podem ser exacerbados pelo pesar.

Mas o tratamento de condições pré-existentes não é terapia do luto. É apenas terapia.

Esse texto foi traduzido por: George El Khouri Andolfato


Obs.: O porque deste texto: infelizmente na última quinta-feira eu perdi meu bebezinho e por isso o blog esteve tanto tempo ausente. Aos poucos voltarei no meu cantinho. Ainda estou me recuperando física e emocionalmente. Obrigada a todos por sempre visitarem meu cantinho! Beijos!





Inscreva-se para receber atualizações!




Compartilhe esse Post!

Nenhum comentário:

Postar um comentário

Leia as regras:
Os comentários deste blog são moderados.
Use sua conta do Google ou OpenID.

Não serão aprovados comentários:
* com ofensas, palavrões ou ameaças;
* que não sejam relacionados ao tema do post
* com pedidos de parceria;
* com excesso de miguxês CAIXA ALTA, mimimis ou erros grosseiros de ortografia;
* sem e-mails para resposta ou perfis desbloqueados;
* citar nome de terceiros em relação à apologias, crimes ou afirmações parecidas;
* com SPAM ou propaganda de blogs.

Importante:
* Diferença de opinião? Me envie um e-mail e vamos conversar educadamente.
* Parceria somente por e-mail.
* Dúvidas? consulte o Google!

Obrigada por sua visita e comentário. Volte sempre!
OBS: Os comentários dos leitores não refletem as opiniões do blog e de sua autora.

Observação: somente um membro deste blog pode postar um comentário.

Este blog possui atualmente:
Comentários em Artigos!
Widget UsuárioCompulsivo
Return to top of page
Powered By Blogger | Design by Genesis Awesome | Blogger Template by Lord HTML